HOMILIA PARA MISSA DA FESTA
DE SANTA EFIGÊNIA (2011)
Caríssimos irmãos presbíteros, estimados seminaristas, queridos irmãos e irmãs, devotos de Santa Efigênia. Inicio esta reflexão afirmando que nós cristãos católicos temos duas famílias: a primeira é a família de sangue, aquela família que Deus nos deu desde o nascimento e cujo sobrenome herdamos como herança; a segunda é a família Igreja, unida pelos laços da fé em Nosso Jesus Cristo. Por isso, apesar de sermos de vários lugares e pertencermos a diversas famílias de sangue diferentes, existe entre nós uma fraternidade universal, porque professamos a mesma fé em Jesus Cristo e procuramos fazer a vontade do Pai do céu: “Minha mãe e meus irmãos são todos aqueles que fazem a Vontade do meu Pai que está nos céus” (Mt 12, 50). A família da paróquia de Santa Efigênia está hoje ampliada com a presença de tantos devotos (as) que vieram de outras paróquias e cidades. Sejam todos bem- vindos! Aqui formamos esta única família, irmanada pelos laços da fé em Deus e pela devoção à primeira santa africana, Santa Efigênia.
A Igreja celebra hoje a festa do grande apóstolo e Evangelista São Mateus. A história vocacional deste santo é muito especial: ele era cobrador de impostos, homem mal visto pela sociedade, conhecido pela sua profissão e considerado inimigo do povo. No exercício de sua profissão, muitas vezes os cobradores de impostos exerciam a violência e cobravam além do exigido pelo Império para benefício próprio, enriquecendo-se ilicitamente. E foi exatamente a este homem que Jesus chamou para ser seu discípulo. Isso revela para nós, meus irmãos e irmãs, que Jesus é realmente misericordioso e escolhe também os pecadores para o seu serviço, não somente os que se consideram puros e santos: “Eu não vim chamar os justos, mas os pecadores” (Mt 9, 13). Jesus escolhe os que estão doentes pelo pecado, para que experimentando o seu amor, recuperem a saúde espiritual e se coloquem mais entusiasmadamente a serviço de Deus: “Não são os sãos que estão bons que precisam de médico, mas sim os doentes” (Mt 9, 12). Amor experimentado, amor repartido.
Ouvindo o chamado de Jesus, Mateus se converteu, passou a ter uma vida simples, desapegou-se dos bens materiais e tornou-se o grande evangelista que conhecemos. Chama a nossa atenção, o modo como são Mateus desprendeu-se das coisas deste mundo para seguir Jesus Cristo. No seu Evangelho ele sempre deixa claro que as riquezas maiores não são as deste mundo: “Não ajunteis para vós tesouros na terra, onde a ferrugem e as traças corroem, onde os ladrões furtam e roubam. Ajuntai para vós tesouros no céu, onde nem as traças nem a ferrugem os consomem, nem os ladrões roubam. Por que onde está o teu tesouro, ai estará o teu coração” (Mt 6, 20). São Mateus fez esta experiência: largou a sua profissão rentável, os bens que possuía, o desejo de crescer financeiramente, o status de funcionário do império, para seguir o mestre Jesus. Foi tão firme no seguimento que deu a sua vida por Ele, através do martírio na Etiópia. Ele é para nós hoje, um grande exemplo de discípulo missionário. E nós? Somos capazes de abrir mão de nossas comodidades para seguir Jesus Cristo? Já descobrimos o verdadeiro tesouro? Estamos exercendo a nossa vocação de anunciar, com a vida e a palavra, o nome de Jesus?
Celebramos hoje também a festa de nossa querida padroeira, Santa Efigênia. A sua história está intimamente ligada à vida de São Mateus. Segundo a tradição, ela aderiu à fé cristã ouvindo as pregações de São Mateus, no período em que ele começou a evangelizar na Etiópia, e foi batizada por ele. Ela era filha de reis, vivia na cidade da Núbia (região da Etiópia), portanto, de família rica e poderosa e como São Mateus, não se apegou aos bens materiais, nem às influências de família, mas descobriu que o tesouro maior era Jesus Cristo e colocou-se numa postura de discípula. Portanto, irmãos e irmãos, a primeira lição que aprendemos com Santa Efigênia é a do desprendimento e desapego. Um devoto verdadeiro de santa Efigênia não pode amar mais o dinheiro e os bens materiais do que Jesus Cristo e a Igreja. Um devoto autêntico da princesa da Núbia não pode colocar em primeiro lugar os seus próprios interesses e vaidades, mas a vontade e os interesses de Deus. Será que estamos vivendo como Santa Efigênia?
Diz a tradição que num determinado período da história do reino da Núbia, uma grande peste invadiu a Região. O seu pai consultou os oráculos pagãos e eles o aconselharam sacrificar a própria filha para abrandar a ira dos deuses.. No momento em que seria queimada, Efigênia invocou o nome de Jesus e foi libertada daquele tormento. Conta a tradição ainda que depois que sua família se converteu, após a cura do seu irmão Efrônio através das orações de São Mateus, Efigênia fundou uma comunidade religiosa com mais de 200 mulheres. O seu objetivo era dedicar-se à oração e ás práticas das virtudes evangélicas. Porém, o trono do seu pai foi roubado pelo seu tio e este queria se casar com a sobrinha, santa Efigênia. Querendo consagrar-se somente a Deus, Efigênia rejeitou o casamento e, por isso, seu tio mandou incendiar e queimar o convento que havia fundado, onde morava juntamente com as demais seguidoras. Mais uma vez, numa atitude de confiança em Deus, ela pôs-se em oração e o convento foi preservado. Meus irmãos e irmãos, o que fica evidente nestes dois episódios é a fé desta grande santa. Diante das dificuldades da vida, Santa Efigênia não se desesperava, mas confiava em Deus e Ele sempre a amparava e protegia contra os perigos. Que atitude bonita! Um devoto de santa Efigênia verdadeiro não pode perder a esperança e nem a fé em Deus diante das dificuldades da vida. Um devoto verdadeiro de Santa Efigênia confia em Deus, reza nos momentos mais difíceis, invoca o nome do Senhor na certeza de que Ele ouvirá as suas preces. Fé, confiança em Deus, oração, serenidade diante dos desafios da vida, são virtudes de Santa Efigênia e que nós queremos fazê-las nossas também.
Meus queridos irmãos e irmãs, nesta grande festa de hoje, queremos invocar as bênçãos de São Mateus e a proteção de Santa Efigênia e pedir a Deus que nos faça ainda mais discípulos e missionários do seu Filho, como foram estes dois grandes santos, principalmente através do desapego dos bens materiais e da consagração da vida a Deus.
Com nosso olhar dirigido para a imagem da nossa padroeira, rezemos juntos: “Ò Santa Efigênia, vós que sendo batizada por São Mateus vos tornastes fervorosa e fiel discípula de Jesus Cristo, ajudai-nos por vosso exemplo e intercessão, para que sejamos humildes e perseverantes servos de Cristo. Ò Santa Efigênia, bondosa mãe dos pobres, auxílio dos doentes e advogada dos oprimidos, olhai as nossas necessidades e dai-nos espírito de confiança e fortaleza diante das dificuldades. Ò Santa Efigênia, que despojando-se das riquezas materiais, com simplicidade e doçura, atraístes fervorosas companheiras numa comunidade de entrega única a Jesus Cristo, ajudai-nos a entregar a nossa vida a Deus, como discípulos e missionários de seu Filho. Amém!” Que Santa Efigênia, primeira santa africana e nossa amada padroeira, nos ajude, nos abençoe e nos faça firmes nos bons propósitos de vida! Amém!
Pe. Edmar José da Silva/ Vigário paroquial
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